quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A arte de simplesmente ser

Há muito tempo estou querendo escrever este texto. Acho que finalmente chegou o momento. O motivo de querer falar sobre isso é que estamos sempre tentando ser melhores e obtendo pouco sucesso.
Estamos sempre querendo surpreender, ser pessoas de destaque, exemplos de sucesso, o melhor namorado, namorada, marido, esposa, pai, mãe, empregado, atleta, aluno, professor, cozinheiro, o mais querido da turma, uma pessoa inesquecível… Nós vivemos a vida tentando se destacar e lutando para sermos lembrados. Queremos ser o melhor ser humano que todos ao nosso redor já conheceram.
Nunca, em hipótese alguma, queremos ser esquecidos. Não queremos ser deixados para trás, não que nossos amigos fiquem bravos com a gente, não queremos errar e quando erramos e somos criticados como consequência nos sentimos injustiçados e ficamos com raiva do mundo porque não fomos perdoados ou porque achamos que estamos certos e temos o direito de se revoltar contra quem nos fez algum mal.
Já vi muitas pessoas dizerem que quando tiverem filhos farão com que seus filhos façam tal e tal coisa, como se fossem eles mesmos. Querem ensinar aos filhos seus comportamentos egoístas e se mostram orgulhosos disso. Estas pessoas querem criar seus filhos para serem uma miniatura de si mesmos para que possam sentir orgulho quando ouvirem que “ele é igualzinho ao pai”.
Tudo isso constitui uma tentativa de imortalizar a própria imagem, para quando abandonarem o mundo deixarem a sua marca ou até mesmo um sucessor para que nunca sejam esquecidos por quem ficou, como se o que acontece no mundo tivesse alguma importância para quem já morreu. É uma forma de egoísmo que me parece piada, pois o morto não vai nem estar presente para ver as pessoas lhe adorando e, mesmo que esteja sob uma forma invisível, não vai haver nenhum bajulador o enxergando. Quem já morreu não existe para o mundo e o mundo não existe para quem já morreu.
Em meio a todas essas tentativas frustradas de atingir a perfeição eu olho para a minha gata. Ela simplesmente não faz nada, só é gata. Fico imaginando se ela tentasse ser uma gata melhor do que os outros gatos. Seria uma chata tentando chamar atenção a todo custo e pedindo todos os holofotes para si. Ela simplesmente não está nem aí para quem ela é, que tipo de gata ela é, qual a cor, o que as pessoas pensam dela. Ela só é aquilo que a natureza lhe fez: gata, e nem pra isso ela liga. Ela não se importa com o que ela é ou não é, se ela é gata ou se é outra coisa, mas em vez de perder tempo com isso ela simplesmente é! E simplesmente sendo ela possui graça em tudo o que faz, me fazendo sorrir e sendo especial sem nenhuma intenção.

FYM


Jerônimo Martins Marana

sábado, 6 de abril de 2013

Destino, liberdade e escolha





Vejo que muitas pessoas se questionam a respeito de liberdade, livre arbítrio e destino. Já participei de muitas conversas a respeito, mas acho que nenhuma delas foi muito longe, porque há muita incerteza a respeito disso, então é difícil se chegar a qualquer conclusão. Como eu gosto desse tipo de mistério, questionei isso a fundo, chegando ao que vou apresentar agora.

Existe crença e descrença no destino. É complicado pensar em destino quando pensamos que tudo na vida já está predeterminado e não tem como ser mudado. Assim fica difícil falar em livre arbítrio, ou que temos alguma liberdade, pois se temos um destino fixo, não temos nenhuma escolha. Vou tentar esclarecer tudo isto do meu ponto de vista, segundo o qual destino, liberdade e escolha realmente existem e exercem influência uns sobre os outros.

Segundo Alexander Lowen, destino tem a ver com caráter, e para isso devemos entender o que é caráter. È comum as pessoas falarem em “bom caráter”, “mau caráter” ou sem “caráter”. Em seu livro Medo da vida, Lowen descreve o caráter da seguinte maneira: (...) o caráter determina o destino. Caráter se refere ao modo típico, habitual, ou “característico” de ser e comportar-se de uma pessoa. O caráter define um conjunto de respostas fixas, boas ou más, que são independentes de processos mentais conscientes. Não podemos modificar nosso caráter por meio da ação consciente. Não está afeito às rédeas de nossa vontade. Em geral, não temos consciência de nosso caráter porque ele se tornou nossa “segunda natureza”.

O que essa descrição de caráter nos quer dizer é que temos uma forma padrão de responder às questões da vida que é inconsciente. É como eu disse em a constante mutação e os hábitos, estamos habituados a uma forma de ser e de encarar as coisas. Podemos dizer então que o nosso caráter, ou melhor, os nossos padrões, regem o nosso destino. Mas se podemos modificar o nosso caráter, então podemos também mudar o nosso destino, mas a única forma de se fazer isso é reconhecendo e aceitando os nossos padrões. É como quando apontamos uma característica negativa de alguém para que ela mude: ela só irá mudar se ela aceitar o que ela é, por exemplo, enquanto uma pessoa não aceitar que ela é egoísta ela continuará assim.

Mas se temos um padrão inconsciente de resposta, então significa que nem sempre temos liberdade de escolha, pois na verdade estamos submetidos ao que a mente está habituada, escolhendo, na verdade, o que a mente quer, e não o que nós queremos. Isso acontece por que no processo de desenvolvimento da consciência aprendemos com nossos erros. Aprendemos como agir de forma mais eficiente e também aprendemos a nos defender, e a autodefesa é determinante nas nossas chamadas “escolhas”. Nossos mecanismos psíquicos de defesa são formados pelos traumas, decepções, angústias e mágoas que adquirimos ao longo dos anos e que não fomos capazes de apagar. Assim adquirimos medos, fruto da negatividade proveniente dos sentimentos de dor que ficaram gravados na memória inconsciente.

Esses medos inconscientes tem grande poder de influência sobre nossas atitudes e modo de ser, pois como nos agarramos ao passado traumático, aos nossos sofrimentos, passamos a nos defender deles pelo resto da vida ou até que deixemos que eles se vão. Na verdade nos defendemos da mente, pois os medos são apenas uma imagem, uma ilusão que só existe dentro dela: é a mente defendendo-se contra si mesma. Seja como for, erramos e nos decepcionamos muito durante a vida, e por isso nos defendemos, pois sabemos que estamos sujeitos a sofrer com tudo o que temos e fazemos, de modo que inconscientemente acreditamos que a dor está para surgir a qualquer momento.

O apego ao passado nos tira a atenção do momento presente, fazendo com que acreditemos que o presente é doloroso como foi o passado, e assim criamos a ideia de que só seremos felizes no futuro, um futuro pelo qual sonhamos e esperamos mas que nunca chega, ou se chega não percebemos. Como disse Eckhart Tolle no livro O Poder do Agora, vivemos o presente com olhos do passado, ou seja, vivemos traumatizados, e é aí que a mente cria defesas contra o momento presente. Vou usar o casamento como exemplo, pois ele só dá certo com uma pessoa, e até que se encontre essa pessoa, muitos relacionamentos dão errado. Desse jeito a mente se habitua facilmente ao erro, e de acordo com o exemplo entramos em cada novo relacionamento com as defesas erguidas por medo de dar errado novamente, pois tendemos a pensar que haverá o mesmo sofrimento que houve nos relacionamentos anteriores.

Na vida nos deparamos inúmeras vezes com situações de incerteza em que temos que fazer escolhas, optar pelo que achamos que é certo e melhor a ser feito. Como estas situações nos pressionam, e como a mente também nos pressiona com o seu medo do erro, frequentemente optamos por aquilo ao que a mente está habituada: o erro. A mente nos controla através do medo que nela está impregnado, então não somos nós quem escolhe, e sim a mente, que dotada apenas de raciocínio lógico e desprovida da intuição, só sabe comparar as coisas com base na memória, e quando desconectada da fonte dessa intuição e da sabedoria que permitem o correto discernimento, age de forma inconsciente e mecânica. O inconsciente age mecanicamente porque é sua natureza, ele é programado para isso, e ele não discrimina o certo do errado, apenas reage às coisas independentemente disso, pois ele é programado para isso.

Então não fazemos escolhas. Como então mudar o destino? Vamos falar agora de livre arbítrio e liberdade. Entendo o livre arbítrio como algo diferente de liberdade. Sabemos que temos o livre arbítrio para vivermos como bem entendermos, mas isso significa que tenhamos liberdade? Não. Um criminoso na cadeia tem livre arbítrio, mas está desprovido de sua liberdade. Livre arbítrio, para mim, significa que estamos livres para escolher como vamos viver e liberdade significa estar livre de qualquer tipo de aprisionamento, inclusive mental. Neste sentido, estamos desprovidos de liberdade, pois não estamos livres da nossa consciência. E do mesmo modo, no nível de consciência comum estamos presos pela mente, sendo submetidos às suas escolhas, o que nos torna escravos de nossos padrões.

Portanto, liberdade para mim é estar livre da necessidade de fazer escolhas, mas isso só é possível atingindo um nível de consciência onde a escolha é realmente consciente. Um nível de consciência em que simplesmente percebemos o que é certo, o que é melhor a ser feito, em uma determinada situação sem que haja interferência da racionalidade da mente, mas por meio da intuição. Mas se soubéssemos o que é certo, o que é o melhor a se fazer, precisaríamos optar? Eu acredito que não haveria opção, simplesmente faríamos o que devesse ser feito, pois não haveria dúvidas. É onde estaríamos livres da escolha. Mas para se chegar a este ponto precisamos nos livrar das barreiras mentais que nos forçam a escolher o erro, ou seja, devemos nos desapegar do passado. Assim, não deve haver erro no que disse minha mestra: liberdade é se desvencilhar do apego.

FYM

Jerônimo Martins Marana




quinta-feira, 28 de março de 2013

Perdão e amor incondicional


Neste post eu quero falar sobre amor incondicional e perdão, mas voltando o tema para os casais, pois se eu falar desse tema com relação a pais e filhos ou com relação aos amigos acho que eu não teria nada de diferente para acrescentar, porque acredito que sobre isso todo o mundo já sabe. Creio que focando em casais eu posso englobar os amigos e a família por dois motivos: um deles é porque em primeiro lugar, duas pessoas que formam um casal devem, em primeiro lugar, ser o melhor amigo um do outro, não preciso nem falar o motivo. E depois, uma família geralmente é formada a partir de um casal, pois sem que haja um casal não há como haver pais e filhos (um filho adotivo, por exemplo, nasceu de um casal). Na verdade, esse texto, assim como os outros, é mais um desabafo, pois fico triste com a ausência do perdão e do amor incondicional e acabo me sentindo impelido a falar o que penso a respeito.


A princípio vou começar falando a respeito do amor dos pais, principalmente o da mãe, pelos filhos, com o fim de comparação. Uma mãe ama o seu filho incondicionalmente, independente de suas escolhas. Mesmo que o filho seja criminoso e esteja preso, o instinto materno é forte e ela fará tudo o que for possível para tê-lo de volta e para ajudá-lo a mudar. Se o filho for viciado em drogas, a mãe, os pais farão de tudo para que ele se livre do mal. Nunca irão julgá-lo, nunca deixarão de amá-lo e de ajudá-lo e estarão sempre esperando até o dia em que o filho volte para seus braços e para seu lar são e salvo.

Entre amigos também ocorre algo semelhante, pois quando surge algum problema entre eles, não tarda até que o resolvam se forem realmente amigos, mesmo que o problema os tenha afastado.


Agora eu me pergunto – e espero tê-lo levado a questionar o mesmo – por que não acontece o mesmo com relação ao amor “romântico”. Esse tipo de relacionamento é tão egoísta e possessivo que raramente existe amor incondicional nele. Muitos podem contra-argumentar, mas quando o casal está unido é fácil. Mas não é a isso que me refiro. Volto na questão tratada no post “A proibição do sentir”: O que impede uma pessoa de amar à outra quando o amor não é correspondido? Arrisco-me a dizer que é o medo. Do sofrimento, de nunca conquistar a pessoa amada. E também uma autoimagem tão egocêntrica, talvez até narcisista, que leva a um instinto (talvez melhor do que “instinto” seja a palavra “desejo”) de preservação porque o sujeito sente que a sua imagem frente aos outros é prejudicada se ele sofrer por alguém que não o corresponde e que, muitas vezes, o maltrata.

Decorrente desse medo surge ódio e aversão pelo outro, o que contradiz qualquer ideia de amor verdadeiro. Isso faz com que muitas pessoas pelo fato de terem passado pela mesma situação, incentivem o medo nos seus amigos quando eles gostam de alguém que não lhes retribui. Estas pessoas acreditam (se você já se acostumou com os meus textos já deve saber que me refiro a acreditar no nível inconsciente) que tem uma reputação e uma imagem a proteger.


Se uma pessoa ama a outra, só pode ser de forma incondicional, pois o amor é incondicional. Se não for então não é amor. O amor verdadeiro não exige troca, esse é o ideal de Platão (daí amor platônico) de amar sem exigir ser amado, amor desinteressado, altruísta. Mesmo que o outro não corresponda às expectativas de um, nada impede este de sentir o que está sentindo. As pessoas falam de uma suposta relação entre amor e ódio, mas aqui uso as palavras do mestre Eckhart Tolle: o amor não tem opositor, chamamos vulgarmente de amor aquilo que é o oposto de ódio.

Isso inclui e exige a capacidade de perdoar. Vamos imaginar, para usar como exemplo, que um casal se separou e um dos dois sai cada dia com uma pessoa diferente, faz um monte de atrocidades com o coração do outro e tudo o mais. Por que não se pode amar essa pessoa e ter a esperança de ela voltar um dia, assim como a mãe do filho viciado ou criminoso? Se um dia essa pessoa voltar arrependida, pedindo perdão e se mostrando diferente, ou ao menos tentando, ela tem o direito de ser perdoada. É claro que você não é obrigado a permanecer ao lado de um parceiro que vive te traindo, mas isso não o impede de amá-lo ou perdoá-lo. Se você se lembra do Novo Testamento, Jesus não julgou a prostituta.
 
Somente uma pessoa muito insensível e muito rancorosa não é capaz de perdoar. Mas o que a faz agir assim é o seu apego ao passado que faz com que ela acredite que tudo é eterno, que nada muda, e por fim, que a outra pessoa não muda. Por estar habituada com a antiga imagem do outro ela permanecerá rancorosa, magoada e desconfiada.

É preciso aprender a perdoar e amar incondicionalmente, pois amor verdadeiro é incondicional, e ser incondicional exige perdão. Com perdão o amor não é egoísta e possessivo e supera qualquer dificuldade. Não se pode ter medo de amar porque isso nos torna fechados, o que impede que a vida flua, pois viveremos sempre desconfiados do namorado, namorada, cônjuge, transformando o relacionamento numa disputa onde cada parte tenta estar sempre acima do outro e preservar sua autoimagem, seu ego, nunca cedendo em nada por receio de ser dominado e manipulado pelo outro. Além disso, pode-se chegar ao nível de buscar um relacionamento não com quem realmente amamos, mas com quem nos dá segurança e algum prazer, que um dia acaba. Aí está, para mim, o principal motivo do número absurdo de divórcios que vemos hoje em dia. É óbvio que precisamos de segurança dentro do relacionamento, mas só isso não basta, porque em primeiro lugar um relacionamento precisa de amor.


FYM

Jerônimo Martins Marana

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Será que o mundo está chegando ao seu fim?


Muito se tem falado sobre o fim do mundo, que deveria estar acontecendo agora, mas que por algum motivo atrasou. Nem sempre se falou sério sobre isso. Acho que no nível consciente quase nunca, mas o inconsciente de muitas pessoas levou esse assunto a sério. Pois bem, talvez seja possível que o mundo esteja chegando ao seu fim, pelo menos o mundo da maneira como conhecemos.

Não estou querendo dizer que nossa constituição física vai mudar, que vamos passar do plano físico para o plano espiritual e viver num corpo etéreo (mas como sei muito pouco sobre o universo, não sou a pessoa certa para falar que algo assim vá ou não vá acontecer), mas talvez a consciência humana como conhecemos esteja a partir de hoje iniciando o seu fim. Hoje é o dia em que segundo o famoso calendário maia marca o fim de uma era, entre cinco, de duração de aproximadamente 5.125 anos. A diferença do último dia deste quinto ciclo para os quatro anteriores é que segundo os astrônomos maias acontece um fenômeno raro: o alinhamento do sol do solstício com o centro da galáxia, que ocorre uma vez a cada 26.000 anos, além do fenômeno da precessão, que consiste na mudança do eixo da Terra, que acontece também a cada 26.000 anos. Já ouvi falar, inclusive, com o alinhamento do nosso sol com o buraco negro da nossa galáxia, mas não sei se isso era 2012 ou 2013, tem que perguntar para os cientistas.

Mas o incrível é que muitas culturas, não só os maias, já falaram sobre este evento. Nostradamus falou sobre eventos que aconteceriam por volta de 2012, sendo que monges budistas tibetanos e os índios Hopis do Arizona apontam para eventos que ocorrem a partir da mesma data, que para os hindus marca o fim da Kali Yuga (Idade de Ferro), onde se concretizará uma profecia de Krishna. Os espíritas também falam sobre uma mudança de consciência a partir de agora. E muito se fala sobre o encontro com civilizações extra-terrestres, ou seja, de fora da Terra. Ou de dentro, isto é, do interior da mesma. Sim, é isso que você está pensando, a teoria da Terra Oca diz que existem seres de origem de outros planetas que vivem há muito tempo debaixo do nosso solo, no interior da terra. Uma consulta com o oráculo Google irá te informar sobre muitas teorias de diferentes povos sobre isso tudo. E ao final do texto vou colocar um link para que vocês possam ler o diário do almirante Byrd. Continuando, o curioso é que esse período incomoda os cientistas, pois eles apontam para a possibilidade de erupções vulcânicas, terremotos, tsunamis e tempestades solares, todos eles de enormes proporções, que podem causar sério problemas, chamados colapsos, ao nosso planeta.

Mas o motivo pelo qual eu falo tudo isso é que parece estar havendo realmente uma mudança. Muita coisa tem me surpreendido nos últimos cinco anos, mais ou menos, no sentido de mudança da consciência do ser humano. A criação da Lei Ficha Limpa, de iniciativa popular propagada por campanhas nas redes sociais, a primavera árabe, o interesse muito maior que observei por parte dos jovens da minha pacata cidade sobre as últimas eleições presidenciais e maior ainda nas eleições municipais deste ano, crescimento e popularização do veganismo, a maior oferta e procura por alimentos mais saudáveis, a maior preocupação com o aquecimento global, com a saúde, a procura por alimentos orgânicos, para mim não são eventos isolados, mas indícios de uma mudança. Aliás, muitas empresas de alimentos estão estampando o selo de “feito com alimento orgânico” nas embalagens de seus produtos, e imagino que dentro de alguns anos, aquelas que não aderirem a essa nova onda irão à falência, mesmo que a maioria dos consumidores não saiba o que são alimentos orgânicos e não orgânicos. A preocupação com tudo o que foi mencionado anteriormente pode não ser pelos motivos certos, mas ainda assim é um começo de uma nova consciência, a meu ver.

Mas o que mais tem me surpreendido é a inteligência das crianças nascidas nos últimos cinco anos. Isso realmente me espanta. Não sei se me tornei mais observador com o passar do tempo, mas isso não me parece normal.

Tudo isso não podem ser eventos isolados, sem nenhuma conexão. Mas sim, acredito que a data de hoje marca o fim do mundo, mas do mundo da maneira como conhecemos, e a entrada na Era de Aquário, ou Era Dourada, ou Idade de Ouro (Satya Yuga). Mas essa transição deve ser sutil, quase imperceptível, já que nada aconteceu até agora. De qualquer forma, temos até o fim do dia para esperar, mas não fiquei sabendo de nenhum evento de fim do mundo em nenhum outro lugar do mundo onde o dia começa e termina antes do que aqui...

Abaixo, dois links interessantes para sua consulta:

FYM

Jerônimo Martins Marana

sábado, 6 de outubro de 2012

Quem é o "eu"?

Lao Tsé disse:
“Mantém o corpo animal e a alma sensível numa unidade para que te transformes novamente uma criança recém-nascida”.

Os que simpatizam com a biologia justificam o comportamento afirmando que somos animais. Os que simpatizam com as ciências humanas justificam tudo pela mente humana, que dá significado a tudo. Somos animais com uma mente humana. Somos dois, não somos um. Ou melhor, somos dois em um. Melhor ainda, somos um.

O sofrimento vem dos nossos instintos físicos, dos nossos cinco sentidos, já diziam Lao Tsé e Buda, pois nos identificamos com o corpo. Quando falo “eu”, coloco a mão no peito. O que é o “eu”, minha mão ou meu peito? Mas se a mão é minha e se o peito é meu, quem é, afinal de contas, o “eu” que os possui?

Essa é a pergunta fundamental, e enquanto não for respondida, não estaremos em paz. Mesmo tendo toda a diversão e todos os prazeres, não seremos felizes. É como disse Lord Byron: “já bebi da taça de todos os prazeres, mas ainda tenho sede”.

FYM

Jerônimo Martins Marana

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O vencedor

Como havia dito em "Descubra o herói interior", neste post quero comentar a letra da música "O Vencedor" (Los Hermanos). Não sei qual era a real intenção de Marcelo Camelo ao compor esta letra, mas para mim me parece de grande sabedoria e diretamente relacionada, e por isso muito útil, aos temas deste blog.

Olha lá, quem vem do lado oposto
Vem sem gosto de viver
Olha lá, que os bravos são
Escravos sãos e salvos de sofrer
Olha lá, quem acha que perder
É ser menor na vida
Olha lá, quem sempre quer vitória
E perde a glória de chorar
Eu que já não quero mais ser um vencedor
Levo a vida devagar pra não faltar amor

Olha você e diz que não
Vive a esconder o coração

Não faz isso, amigo
Já se sabe que você
Só procura abrigo
Mas não deixa ninguém ver
Por que será?
Eu que já não sou assim
Muito de ganhar
Junto às mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
Só pra viver em paz

Não entendo qual deve ser o significado do lado oposto, escrito no primeiro verso. Acho que pode ser algo como “aqueles que foram, desistiram e estão voltando na outra mão” (como se diz no trânsito), mas é certo que os bravos, aqueles mesmos que eu falei em "A proibição do sentir" que forçosamente não se deixam abater por nada, estão livres de sofrer. Estão livres, mas são escravos de si mesmos, pois precisam esculpir uma máscara de fortes que os deixa insensíveis e incapazes de serem realmente felizes. Constroem um muro em torno de si mesmos que deixa do lado de fora qualquer ameaça e qualquer sofrimento, mas ao mesmo tempo aprisiona do lado de dentro aquela alma que anseia encontrar a felicidade. Em outras palavras, ninguém entra e ninguém sai, então estas pessoas se tornam escravas, pois se privam do direito de ter sentimentos verdadeiros, sejam eles de alegria, sejam eles de dor.

Estas mesmas pessoas julgam que perder é ser menor do que os outros, que não ser notável é um fracasso, e por isso sempre querem a vitória a todo custo, retirando de si o direito de chorar e a capacidade de se render, pois não podem parar um tempo para se recompor, para deixar o vento bater no rosto, para chorar um pouco, pois precisam esgotar todas as suas energias numa corrida frenética por conquistas sem sentido, dignas de Alexandre Magno, que não levam a lugar algum.

No trecho seguinte me parece que o autor aponta que aquele que já desistiu de ser o típico vencedor vendido pela sociedade capitalista, ou mesmo o vencedor de outros tipos de sociedade igualmente egocêntricas, leva a vida devagar, parando quando necessário, pois assim é possível se abrir para o amor, o que acho que o falso vencedor em que somos induzidos a acreditar não é capaz de fazer. Realmente não acredito que este tipo de vencedor egoísta é capaz de amar verdadeiramente. E estas mesmas pessoas escondem seus corações de toda uma gama de bons sentimentos e intenções que lhes seriam favoráveis, negando os maus sentimentos que carregam consciente ou inconscientemente dentro de si.

Já se sabe, pelo menos para mim isso é uma verdade, que estes amigos apenas procuram nas suas conquistas um refúgio contra seus sofrimentos, decepções e sentimentos reprimidos, ao mesmo tempo em que procuram não deixar ninguém ver que eles estão fazendo isso, mas só conseguem enganar aqueles que fazem o mesmo, e o curioso é que às vezes conseguem enganar até a si mesmos! É legal a pergunta feita no fim da estrofe: por que será? Por que será que não deixam ninguém ver? Será pelo medo de assumir as suas fraquezas frente aos medos e sofrimentos que carregam por toda a vida? Julgo que sim.

Mas aquele que não é muito de ganhar, que não faz questão de ser o número um, mas que ao contrário se permite colocar-se em último lugar, como prega Lao Tsé no Tao Te Ching, faz o melhor que é capaz, se permitindo parar quando necessário e desistir quando chega o seu limite...

Só pra viver em paz!


FYM

Jerônimo Martins Marana

quinta-feira, 29 de março de 2012

Supervalorização da fama e do dinheiro

Mais uma vez tivemos a contribuição de nosso amigo Marcelo Yoshida com um tema que trata sobre algo muito frequente, mas que contrariamente passa muitas vezes despercebido. Agradecemos a contribuição do Marcelo e boa leitura!

O Ilimitado

Supervalorização da fama e do dinheiro?

Cantor que agrediu parceira é criticado por outros cantores e tem apoio dos fãs.

Quais os argumentos?

“Como se ele ligasse o que vc diz ele pode ser lixo mais é rido lindo e talentoso ao contrário de vc que é um babaca que fica criticando os outros”*

O cantor não vai realmente ligar pra pessoa que acha ele um lixo. Maaaaas...

Usar o fato de o cantor ser rico, lindo e talentoso significa que ele pode bater nas pessoas e que ele não pode ser alvo de críticas, seja lá de quem for? Isso justifica ou torna o ato menos reprovável?

É capaz de admirar uma pessoa que agride outra? Acho que não (eu pelo menos não).

Acho que as pessoas deveriam pensar um pouco mais sobre o quão flexível o julgamento se torna a partir do que a pessoa julgada tem. Dinheiro, beleza, fama... Será que essas são as coisas que importam no fim das contas?

O fato de ser um ídolo o torna diferente de qualquer outro ser humano? Acho que não (2).

Eles, ou elas, são pessoas como quaisquer outras. E se eles, ou elas, detêm esse poder de influência, o raciocínio não deveria ser o inverso? Será que não seria exigível que se tornassem modelos de conduta? Talvez.

Assim como artistas, existem outros, menos famosos, como médicos, advogados, juízes, promotores, prefeitos, vereadores, deputados, que detêm também uma carga de influência. Será que esses, mais próximos de nós, também tem uma conduta íntegra? Acho que não (3).

É triste ver como as influências vão determinando a conduta de outras pessoas...

Mas seja diferente. Não seja influenciável. Não só critique. Mude. E quando chegar lá, não faça o mesmo. Não influencie outros negativamente. Seja, pelo menos, um bom exemplo.

FYM
Marcelo Sussumu Yoshida

*O autor do texto quis manter a frase com as palavras de quem a escreveu originalmente.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Descubra o herói interior

Há alguns feitos que os homens de hoje em dia consideram como sendo heroicos e dignos de grande honra. Muitos deles, a meu ver, não passam de adornos para a autoimagem, para o ego. Marca-me muito uma cena que ocorreu em algum dos jogos olímpicos, se não me engano os de Atlanta, em 1996, a qual nos será muito útil no entendimento desta postagem. 

É uma cena muito famosa, que inspira a superação dos nossos limites físicos e mentais. Trata-se de uma corrida, uma maratona, em que uma atleta lutou para terminar a prova, quase sem forças, andando em linhas tortas, e ao cruzar a linha de chegada despencou no chão, dando fim à sua luta após atingir o seu objetivo: concluir a prova. A multidão de espectadores no estádio ficou emocionada e muitas pessoas ficam, até hoje, quando veem este exemplo de superação, de que o ser humano pode fazer aquilo que quer se tiver determinação para isso. Aquela mulher foi, daquele dia em diante, considerada uma heroína, e sua prova a tornou muito famosa.

Uma coisa dessas aumenta a autoestima, autoconfiança, autoimagem, etc. O indivíduo se sente bem por poder dizer “eu consegui". Mas será isso o heroísmo? Peço desculpas àqueles que gostam deste tipo de dramatização da vida real, típica de filmes de Hollywood, que acontece nos esportes. Quando a mídia faz este tipo de dramatização me parece com aqueles filmes em que o herói salva todo o mundo ou vence a sua batalha quando tudo parece estar perdido, como em Independence Day, em que os soldados conseguem com sua estratégia, união de todos os habitantes da Terra em prol do bem comum (coisas que precisamos hoje, mas que só se consegue em Hollywood, ou se um de seus diretores se tornar presidente do mundo) e um ataque suicida vencer os extraterrestres, muito mais poderosos e inteligentes do que nós. Ou então com aqueles filmes do Van Damme, em que ele vence a luta quando quase já não consegue mais lutar e parece que vai ser esmagado pelo seu adversário.

Fico observando o modo pelo qual as pessoas acham que em suas vidas encontrarão o momento de triunfo e o final feliz, semelhante ao que acontece nos filmes e novelas, ou no esporte. As pessoas ficam iludidas, achando que é possível acontecer em suas vidas o que acontece nos filmes. Quando estiver triste, imaginando e desejando um futuro melhor do que o presente veja quantas imagens tipicamente hollywoodianas passam pela sua mente.

Mas voltando ao caso da atleta olímpica, me desculpem aqueles que se comovem com aquela cena ou com outras semelhantes, mas neste texto eu quero desconstruir esta imagem de heroísmo para dar lugar à outra. Na minha visão, superar os seus limites, em grande parte dos casos senão na maioria deles, é apenas uma forma de gratificação do ego. O ego cria limites que não existem e depois se regozija com o feito de superá-los. Os esportes são em geral assim, não inerentemente, mas é o sentido que a maioria das pessoas, a sociedade em geral lhes confere, já que a indústria do esporte induz a isso. Claro que não são assim necessariamente, mas de uma forma geral os exercícios físicos são em grande parte exercícios que doem o corpo e fortificam o ego. Prefiro os exercícios físicos que doem o ego e fortificam o corpo, e acredito que é isto que os seres humanos precisam, em minha opinião.

Mas meu objetivo aqui não é falar de esporte, mas uso o esporte como apenas como uma ponte para o que quero realmente dizer. O meu conceito de heroísmo é outro. Herói para mim é aquele que tem a humildade, sinceridade e coragem de aceitar onde é o seu limite, que é audacioso o suficiente para se render e dizer "para mim acaba aqui, não posso mais do que isso e estou bem assim, fiz o que eu pude, eu desisto". Muitas vezes nos martirizamos por não conseguirmos dar a volta por cima, por não ir um pouco além das nossas capacidades. Mas não é lindo assumir as suas fraquezas, se é que se pode assim dizer, e simplesmente desistir quando não dá mais? Para que ir além quando não há mais forças para lutar? Dando um exemplo bobo, se os copos fossem assim eles se quebrariam pela dor de não conseguir armazenar mais água do que sua capacidade lhes permite.

O que tem de errado em desistir? Claro, devemos sim lutar até o fim, sem desistir sem mais nem menos, mas quando não dá mais simplesmente paramos. Fizemos o nosso melhor e no dia seguinte tentaremos de novo e, talvez nesse dia nossas fronteiras tenham se estendido para mais adiante, tornando-nos menos limitados.

Penso muito em coragem e medo. Conheço pouquíssimas pessoas que possuem a coragem que quando eu era criança me diziam que existia. Coragem de falar a verdade, de amar de verdade, de lutar contra os seus defeitos e sua negatividade e de conquistar a vida. Conquistar a vida no sentido de que neste mundo inerte parece que estamos mais mortos do que vivos. Nossos sonhos estão morrendo, nossas forças estão se esgotando, parece que só existem resquícios do amor. Aliás, a impressão que eu tenho é que a maioria das pessoas tem medo dos justos, sinceros e verdadeiros. Chega a ser cômico, as pessoas preferem confiar nos que mentem do que nos que falam a verdade. Tem medo das pessoas que lutam contra si mesmas na tentativa de eliminar aquilo que as faz infeliz (falo em hábitos e comportamentos). Veem-nas como monstros ou como ameaças quando tentam quebrar um paradigma da sociedade, quando apontam um erro nas coisas que para todos parecem certas, quando denunciam anormalidade naquilo que para todos é  considerado normal.

Igualmente ameaçador é o perdão. As pessoas não confiam muito em quem realmente perdoa e parecem ser receosas de perdoar. Muitos pensam que se perdoarem se tornarão palhaços, marionetes dos outros, que serão feitos de idiotas. Preferem a companhia das pessoas vingativas e rancorosas do que as pessoas que não reagem violentamente aos ataques dos outros. Mas por esta ótica, então, o perdão é ameaçador e as pessoas rancorosas e vingativas são inofensivas enquanto as que perdoam são perigosas, sendo assim, o perdão é a melhor arma contra os nossos inimigos e contra as ameaças que recebemos.

Esse tipo de herói busca o que todo mundo quer de "mão beijada", luta por aquilo que os outros querem conquistar sem batalhar. Mas quando demonstram a coragem requerida para tal, aqueles ao seu redor, inconsciente ou talvez até conscientemente, constituem uma barreira para impedi-los daquilo que eles querem. Um exemplo que sempre penso pode explicar esta idéia: imagine um muro alto em torno do Jardim do Éden. Milhões de pessoas estão ao seu redor e sabem que do outro lado do muro a vida é melhor e eles serão realmente felizes e viverão em paz, porém o muro é muito alto e dificílimo de ser escalado. Todos querem escala-lo e saltar do outro lado, mas ao invés de fazerem isso, esses milhões de pessoas puxam pelos pés aquelas poucas centenas de corajosos que se propõem a fazê-lo, e apenas alguns conseguem continuar a subida enquanto outros cedem às insistências dos inertes.

Infelizmente o heroísmo que eu gostaria de ver é visto como ameaçador pela maioria das pessoas. Acredito que muitas delas tenham medo de sofrer mais ainda do que já sofrem caso se arrisquem a entrar numa busca sincera por aquilo que querem. Acho que as pessoas tem medo de ficarem loucas com a decepção de não conseguirem de imediato o que almejam e assim acabarem vivendo uma vida frustrada, acreditando que aquilo que eles sonham não passa de uma fantasia, que é possível de ser alcançado. Isto nada mais é do que o comodismo de outro post.

Mas eu pergunto agora: não vale a pena lutar assim? Por que não tentar descobrir o seu herói interior?

Finalizando, digo que este tema me lembra muito a música "O vencedor", dos Los Hermanos, que irei comentar num outro post.

FYM

Jerônimo Martins Marana

Buda e o tapa

Como prometido no post "A constante mutação e os hábitos", aqui está a história sobre o dia em que Buda inesperadamente levou um tapa na cara de um homem desconhecido.
Conhecemos esta história através do blog Saindo da Matrix e ela foi retirada do livro "Intimidade - como confiar em si mesmo e nos outros" de Osho. Boa leitura e boa reflexão!

O Ilimitado

Buda estava sentado embaixo de uma árvore falando aos seus discípulos. Um homem se aproximou e deu-lhe um tapa no rosto.
Buda esfregou o local e perguntou ao homem:
- E agora? O que vai querer dizer?
O homem ficou um tanto confuso, porque ele próprio não esperava que, depois de dar um tapa no rosto de alguém, essa pessoa perguntasse: "E agora?" Ele não passara por essa experiência antes. Ele insultava as pessoas e elas ficavam com raiva e reagiam. Ou, se fossem covardes, sorriam, tentando suborná-lo. Mas Buda não era num uma coisa nem outra; ele não ficara com raiva nem ofendido, nem tampouco fora covarde. Apenas fora sincero e perguntara: "E agora?" Não houve reação da sua parte.
Os discípulos de Buda ficaram com raiva, reagiram. O discípulo mais próximo, Ananda, disse:
- Isso foi demais: não podemos tolerar. Buda, guarde os seus ensinamentos para o senhor e nós vamos mostrar a este homem que ele não pode fazer o que fez. Ele tem de ser punido por isso. Ou então todo mundo vai começar a fazer dessas coisas.
- Fique quieto – interveio Buda – Ele não me ofendeu, mas você está me ofendendo. Ele é novo, um estranho. E pode ter ouvido alguma coisa sobre mim de alguém, pode ter formado uma idéia, uma noção a meu respeito. Ele não bateu em mim; ele bateu nessa noção, nessa idéia a meu respeito; porque ele não me conhece, como ele pode me ofender? As pessoas devem ter falado alguma coisa a meu respeito, que "aquele homem é um ateu, um homem perigoso, que tira as pessoas do bom caminho, um revolucionário, um corruptor". Ele deve ter ouvido algo sobre mim e formou um conceito, uma idéia. Ele bateu nessa idéia.
Se vocês refletirem profundamente, continuou Buda, ele bateu na própria mente. Eu não faço parte dela, e vejo que este pobre homem tem alguma coisa a dizer, porque essa é uma maneira de dizer alguma coisa: ofender é uma maneira de dizer alguma coisa. Há momentos em que você sente que a linguagem é insuficiente: no amor profundo, na raiva extrema, no ódio, na oração.
Há momentos de grande intensidade em que a linguagem é impotente; então você precisa fazer alguma coisa. Quando vocês estão apaixonados e beijam ou abraçam a pessoa amada, o que estão fazendo? Estão dizendo algo. Quando vocês estão com raiva, uma raiva intensa, vocês batem na pessoa, cospem nela, estão dizendo algo. Eu entendo esse homem. Ele deve ter mais alguma coisa a dizer; por isso pergunto: "E agora?"

O homem ficou ainda mais confuso! E buda disse aos seus discípulos:
- Estou mais ofendido com vocês porque vocês me conhecem, viveram anos comigo e ainda reagem.
Atordoado, confuso, o homem voltou para casa. Naquela noite não conseguiu dormir.

Na manhã seguinte, o homem voltou lá e atirou-se aos pés de Buda. De novo, Buda lhe perguntou:
- E agora? Esse seu gesto também é uma maneira de dizer alguma coisa que não pode ser dita com a linguagem. Voltando-se para os discípulos, Buda falou:
- Olhe, Ananda, este homem aqui de novo. Ele está dizendo alguma coisa. Este homem é uma pessoa de emoções profundas.
O homem olhou para Buda e disse:
- Perdoe-me pelo que fiz ontem.
- Perdoar? – exclamou Buda. – Mas eu não sou o mesmo homem a quem você fez aquilo. O Ganges continua correndo, nunca é o mesmo Ganges de novo. Todo homem é um rio. O homem em quem você bateu não está mais aqui: eu apenas me pareço com ele, mas não sou mais o mesmo; aconteceu muita coisa nestas vinte e quatro horas! O rio correu bastante. Portanto, não posso perdoar você porque não tenho rancor contra você.
E você também é outro, continuou Buda. Posso ver que você não é o mesmo homem que veio aqui ontem, porque aquele homem estava com raiva; ele estava indignado. Ele me bateu e você está inclinado aos meus pés, tocando os meus pés; como pode ser o mesmo homem? Você não é o mesmo homem; portanto, vamos esquecer tudo. Essas duas pessoas: o homem que bateu e o homem em quem ele bateu não estão mais aqui. Venha cá. Vamos conversar.


FYM

O Ilimitado

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Vida a dois

Com o texto “Casamento” eu iniciei o tema sobre amor entre duas pessoas porque como disse naquele texto, acredito que a grande maioria dos sofrimentos humanos é consequência do sentimento de amor e da ausência dele. Na faixa etária que vai da adolescência até algo em torno de 25 ou 30 anos de idade e especialmente nesta geração e cultura (regidas pelo capitalismo e dos últimos 50 anos, provavelmente), parece que todas as coisas da vida giram em torno do amor e da companhia de uma pessoa que nos faça sentir completos.

Nos países ou nas regiões que são atingidas mais profundamente pelo capitalismo, até mesmo as relações amorosas se tornam capitalistas. Falo isso porque hoje em dia as pessoas recebem inúmeros estímulos dos meios de comunicação que utilizam a sexualidade, uma coisa natural do ser humano, como forma de vender os seus produtos. É por isso que a cada dia o “horário nobre” começa mais cedo.

O resultado disso é que muitas pessoas de todas as idades vão se acostumando à libertinagem e à promiscuidade, pois acabam iludidas pelo trabalho dos poderosos capitalistas (que também são vítimas daquilo que criam apesar de estarem na “outra margem do rio”) e acabam entendendo como sendo normais coisas como o adultério, a primeira relação sexual aos dez anos de idade, beijar uma pessoa diferente (ou várias) por festa, por final de semana, por dia ou por noite, bigamia, poligamia, pornografia, etc. Não que eu esteja condenando quem seja adepto disso tudo, pois tais atos não passam de hábitos que são, na verdade, frutos da inconsciência e são estes que nos levam à busca do Caminho do Meio. Mesmo que nossos erros não sejam percebidos na encarnação atual, ao longo de nossa trajetória vamos sofrendo as conseqüências de nossos atos passados, e isso se torna um aprendizado contínuo ao longo de várias encarnações que nos levará à libertação do samsara (termo em sânscrito utilizado no budismo que significa o ciclo de nascimentos e mortes, encarnações e reencarnações, a roda da vida).

O grande problema desta geração, resultado de tudo o que foi mencionado nos parágrafos anteriores, é o sentimento de solidão. As pessoas se sentem muito sozinhas, pois são pressionadas o tempo todo a estarem ligadas de forma afetiva e íntima com alguém, mesmo que seja por apenas algumas horas em um único dia ou ocasionalmente, e isso as força a experimentar. Experimentar cada vez mais e mais sensações e pessoas diferentes. Por isso, arrumar um namorado ou namorada hoje em dia é tão fácil e, ao mesmo tempo, tão difícil.

Talvez muitos não concordem, mas ter um relacionamento é mesmo muito fácil. Como as pessoas se sentem sozinhas, rapidamente se ligam a qualquer indivíduo que aparece se mostrando atencioso e carinhoso. Isso é pelo fato de que a pessoa que lhe aparece se comportando assim, muitas vezes é porque ela também se sente sozinha, então se comporta dessa forma com qualquer pessoa que encontra pela frente para facilitar as coisas, pois é assim que é na televisão e, portanto, é assim que “dá certo”. Esse é um dos motivos que torna tão fácil para as pessoas se interessarem por alguém. E como é fácil se interessar por alguém, também o é perder o interesse, porque logo que aparece uma pessoa, aparece outra igualmente interessante para ser experimentada. Infelizmente, isso faz com que as pessoas arrumem namorados quando não deviam, em situações inadequadas ou precipitadamente, dessa maneira sofrem com repentinas e consecutivas perdas de companheiros.

O problema é que muitas pessoas querem primeiro se beijar, para depois se conhecer. Quando duas pessoas se encontram em uma situação qualquer em que o clima propício é criado, as duas se apresentam de uma forma que mostra seu lado bom, ou um lado forjado que na realidade não possuem. Ou seja, acabam demonstrando só um lado de sua personalidade ou até mesmo fingindo ser alguém que não são, sendo que às vezes começa um namoro a partir daí. Acontece que no começo os dois se entendem muito bem, já que há uma euforia por causa da novidade e das mesmas velhas “sensações e emoções novas”, então ainda há energia para sustentar o lado bom da personalidade, ou a personalidade forjada. Mas depois ambos começam a conhecer os defeitos, hábitos e o lado negativo um do outro e percebem a incompatibilidade dos gostos e hábitos. É assim que uma hora a máscara cai e ambos conhecem um ao outro como realmente são. Daí surge as brigas, ruptura do laço e o tão conhecido sofrimento, que é sempre citado no aqui no blog.

Nesse ponto eu pergunto: como podem duas pessoas dizer que se amam e acabar criando uma guerra tão nociva? E como podem duas pessoas que criaram uma guerra dessas acreditar que se amam ou que um dia se amaram? Aminha resposta para isso é que não era realmente amor, era apego. Ambos eram apegados a uma idéia que tinham do outro. Houve uma idealização, foi criada uma personalidade, uma ilusão na mente dos indivíduos representando o outro, e essa imagem foi idolatrada de forma a se acreditar que era real, até o dia em que ela mostrou defeitos e distorções, tentando trazê-los para a realidade enquanto sofriam com sua própria criação.

Imagine uma pessoa cujo cachorro fugiu de casa, e para compensar a perda e ter uma companhia adota um gato. Só que essa pessoa adota o gato e não vê o gato como gato, mas o vê como um cachorro. Então tenta ensinar o gato a brincar com brinquedos de cachorro, correr atrás de gravetos, latir, cavar buracos e até leva o gato para passear preso a uma coleira. Só que, com o tempo, essa pessoa começa a ficar frustrada porque o “cão” não brinca como ele quer, não aprende a sentar quando se pede, não vem quando é chamado, não gosta de passear na coleira e ainda por cima sai de casa à noite, dorme em cima de muros e telhados e ainda arranha todos os imóveis.

Vou apresentar algumas possibilidades de desfecho desta trama. A primeira é: o gato vai embora ou a pessoa se desfaz dele porque ele não atende às suas expectativas. Ela culpa o gato por não ser o que ela espera, e sofrendo com a ausência procura outro gato para fazer de cachorro. Segunda: a pessoa percebe que o gato não é o cachorro. Neste caso o sujeito pode agir também de duas formas. Primeira: começa a tratá-lo e amá-lo pelo que ele é. Segunda: se desfaz dele, entende a perda do cão e fica bem sem nenhum animal de estimação até que se interesse naturalmente por outro ou resolva procurar pelo cachorro perdido.

Utilizei este exemplo para facilitar a compreensão do “fenômeno” que eu chamo de substituição. Agora, com o exemplo dado, vou transferi-lo para um relacionamento amoroso, ou “amoroso”.

Apesar de não demonstrarem explicitamente, a maioria das pessoas tem muita dificuldade de aceitar e assimilar a dor da perda. Muitas vezes é tão forte o apego pela pessoa com quem o laço foi rompido, que se acaba arrumando um “gato” no lugar do “cão”. Dizendo de outra forma, é como se o individuo, após perder a namorada logo arrumasse outra e “vesti-la” de antiga namorada. Na sua mente, a namorada atual representa à antiga, e assim ela recebe a função de lhe dar algo que ele espera da outra, que já partiu. Um dia ele irá inconscientemente perceber que suas expectativas não estão sendo atendidas e que a atual namorada não é antiga. Então as coisas irão piorar, haverá uma crise, muitas brigas e por fim a ruptura e logo haverá uma busca por uma segunda substituta, que também será “vestida” de primeira namorada.

Mas o sujeito poderá também notar que a segunda, ou esta terceira namorada não é a primeira, e tomar uma atitude diferente, pois perceberá a pessoa como ela é. Agora, então, pode ser que as coisas melhorem e ele a ame pelo que ela é ou simplesmente tenha um novo apego. Ou as duas coisas. Ou então perceberá que na verdade não ama nenhuma das três. Ou que ama a primeira e tentará reatar os nós com ela. O importante é o tempo sozinho para entender o que sente e o que não sente.

Com tudo isso, quero apontar o fato de que muitas vezes não sabemos o que estamos sentindo, por isso pode ser arriscado iniciar um relacionamento com alguém que terminou um namoro há três ou quatro meses atrás, pois esse tempo é muito pouco para esquecer de alguém. Se esqueceu, acredito que seja ou porque não sentia o que achava que sentia ou porque ainda sente e não sabe. É claro que um relacionamento que começa dessa forma ou com um beijo precipitado, como eu disse em outro trecho, também pode terminar em um casamento feliz. Entretanto, muitas vezes uma pessoa pode ficar na memória de outra por muitos anos, mesmo que seja na memória inconsciente. Não raro encontramos alguém casado e que já é pai ou mãe, e ainda sente algo por uma outra pessoa que não seu marido ou esposa. Às vezes acontece de o indivíduo se separar e depois notar que sempre teve esse sentimento, ou então se separa porque notou que sentia.

Com toda essa indução ao relacionamento íntimo que estamos expostos e muitas vezes vulneráveis, a maioria de nós acaba sendo forçada a enterrar os seus sentimentos. Se demonstramos para os outros que estamos muito tristes e afetados por causa de um relacionamento rompido, somos pressionados por muita gente para procurar por outra pessoa, com o argumento de que não devemos ficar sofrendo por causa de quem nos deixou. Isso faz com que as pessoas busquem meios de fugir daquilo que sentem, tentando esconder dos outros e até de si mesmos a frustração sentida. Já mencionei isso no post “A proibição do sentir” e o Alexandre e eu também mencionamos o mesmo na nossa postagem de abertura do blog “Convidamos você a abrir sua mente”. E convenhamos que fugir é muito fácil.

As artimanhas são tantas, as mais banais e inimagináveis, vícios e hábitos de todo tipo são utilizados com esse fim: atirar-se ao trabalho, diversões de todo o tipo, como filmes, música, dança, esportes, até coisas mais “pesadas” como bebida, cigarro e drogas. Para “esquecer” alguém, uma das saídas mais famosas é encontrar outra pessoa, ou outras. Outra forma é a raiva: muitos criam um sentimento de raiva por aquele de quem se separou, só que é um sentimento falso, pois as pessoas o criam quando na verdade nem o sentem realmente. E esse sentimento ainda acompanha inúmeras vezes as outras atitudes já citadas no parágrafo. E pelo que eu tenho visto, sempre que ainda existe raiva, desprezo ou outros sentimentos e formas negativas de tratamento, é porque a pessoa a quem se dirigem estas coisas ainda tem algum significado para o outro.


Mas quero citar uma em especial, que é uma atitude inconsciente de defesa que utilizamos para muitas coisas. Essa atitude consiste em desejar que outras pessoas não consigam o que não conseguimos. Conheço uma pessoa que parecia demonstrar que inconscientemente não queria que desse certo o namoro de uma outra com quem tinha amizade, pois a situação desta outra era semelhante à sua situação falha. A razão dessa atitude era que se o relacionamento dessa pessoa amiga não desse certo ela acreditaria que relacionamentos assim não dão certo nunca, então ficaria tranquila, acreditando que isso acontece não só com ela, mas com todos. Entretanto, se este namoro desse certo ela ficaria arrasada, pois o seu foi mal sucedido e o da outra pessoa, que era em condições semelhantes, foi bem sucedido.

Sabemos que vivemos em um mundo onde os valores são machistas. Já se foi o tempo em que o homem dominou a mulher pela força e acredito que vivemos em uma fase de dominação psicológica. De uma forma geral, o homem vê a mulher como objeto de prazer (claro que não exclusivamente), e essa dominação consiste em fazer com que a mulher, inconscientemente é claro, se reconheça como objeto de prazer, se veja dessa maneira. Até peças de roupa são criadas com esse intuito, e no final as mulheres acabam gostando delas e até mesmo elas próprias irão criá-las e fabricá-las, isso porque estes valores já estão impregnados na (in)consciência tanto de homens quanto de mulheres.

Esse tipo de dominação esconde o medo inconsciente que as mulheres tem dos homens. Apesar de serem dominadas psicologicamente, elas ainda tem medo físico (inconsciente é claro) remanescente da era em que eram dominadas pela força. Até identifiquei uma característica postural da maioria das mulheres que vejo por aí que acredito que seja por causa desse medo. Não percebem tanto as mulheres quanto os homens, que eles conseguem o que querem delas dando-lhes em troca algo que elas desejam. Eles se deixam ser dominados para que possam dominar. Em casa é a mulher quem manda para que o homem consiga o que ele quer. Na verdade eles tentam controlá-las porque tem medo de perdê-las. As mulheres não sabem o quanto são importantes para os homens (para os interessados, isso é dito por Robert A. Johnson no livro She: a chave do entendimento da psicologia feminina).

Nos países em que a cultura é menos afetada pelas relações capitalistas as coisas costumam serem um pouco diferentes. O extremo oriente é assim. Em muitas regiões de países como Índia, Tailândia, China, Indonésia, Vietnã, entre outros, as pessoas podem ficar sozinhas por toda a vida até que um dia encontrem a pessoa com quem irão se casar. Na Tailândia, só depois de terem sido monges budistas por um período de três ou quatro meses, em que chegam a meditar até vinte horas por dia, os homens são considerados bons para casar (mas com certeza não deve ser assim em todo lugar e nem todo mundo deve ligar pra isso). Não estou entrando no mérito de serem estas as situações ideais ou não, mas mostrando a diferença de tratamento com relação ao amor e à sexualidade em países com tradições espirituais mais profundas, ou pelo menos diferentes.

É claro que o capitalismo não criou a promiscuidade, pois estas coisas existem desde os primórdios da civilização, inclusive nos países dos exemplos acima, mas perceba quanta pornografia, sensualidade e apelo sexual de todo tipo há nos filmes, novelas, desenhos animados, reality shows, danças, comerciais sapatos, perfumes,  bebidas, principalmente cerveja, e músicas que você sabe que existem e veja que ele é responsável por grande parte disso.

Tudo isso porque nos sentimos e temos medo de ficar sozinhos... Tudo para encobrir um sentimento momentâneo de soidão...

Vejo muita gente se queixar de não encontrar alguém para um relacionamento realmente firme, estável, sério. Não é por menos, pois a maioria das pessoas se envolve com tanta gente e com uma frequência tão alta que se torna muito difícil encontrar alguém sincero ou mesmo saber ou ter certeza de que tal pessoa é assim. Acho incrível como muita gente diz que sabe muito sobre relacionamentos amorosos (ou íntimos) porque tem muitas experiências, quando nem mesmo sabem muito sobre si mesmos e sobre o que estão sentindo. Pensam que sabem lidar com relacionamentos enquanto começam e terminam vários repetidamente.

Ouço muito a frase "quem eu quero não me quer", e isso mostra como as pessoas se sentem sozinhas e querem estar com alguém. Mas não é necessário estar com alguém, e sim compreender a situação e o que se passa no coração, e para isso é preciso se dar um tempo. E o mesmo eu digo com relação ao outro, pois é necessário lhe dar um tempo para que ele possa também compreender o que sente, principalmente logo após ter terminado um relacionamento ou tendo ambos se conhecido recentemente. Falo disso porque acredito que o que importa não é se você tem um relacionamento ou não, mas sim a qualidade do seu relacionamento, por isso as pessoas não devem se precipitar. Sinta o que quer que esteja sentindo. Não adianta tentar colher flores no inverno, por isso esteja sozinho quando estiver sozinho e namore quando estiver namorando. Devemos aceitar o que o presente nos trás e conviver bem com isso, mesmo que o que temos no presente seja um sentimento de solidão. Dessa forma teremos uma melhor compreensão do que está ocorrendo, então estaremos bem, seja sozinhos ou acompanhados.

FYM

Jerônimo Martins Marana