quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Aquele que muda

Existem no mundo algumas pessoas com pensamentos realmente ímpares. São visionários, pessoas com um propósito e ideal firme de vida e por vezes inovador, ou no mínimo com contribuições magníficas para a humanidade, seja nas atividades físicas, ciência, espiritualidade, arte, medicina, etc. Nesse grupo de pessoas encontram-se personalidades brilhantes como Albert Einstein, importantíssimo na ciência, mas que possuía uma filosofia de vida que não era separada da sua genialidade, Charlie Chaplin, que mesmo sendo vítima de muitos problemas pessoais e sofrimento era brilhante em suas críticas e também na forma de pensar sobre a vida além de possuir igual brilhantismo na sua forma de atuar (o que me faz considerá-lo um dos únicos atores que fizeram o seu papel com arte), Isaac Newton, importante alquimista e estudioso da religião cristã, mas que ficou conhecido por meio de seus feitos na física, entre muitos outros que figuraram por este “pequenúsculo” planeta.

Mas às vezes a visão destas pessoas está à frente da mentalidade da sociedade do seu tempo. Um exemplo de que gosto muito é o Dr. Franz Anton Mesmer, médico dos séculos XVIII e XIX que criou a teoria chamada de magnetismo animal (mais tarde também conhecida como mesmerismo), teoria esta que foi rejeitada pela sociedade científica da sua época e que por isso chegou até a ser expulso de seu país! Sim, dr. Mesmer estava muito à frente da mentalidade de sua época, tanto que sua teoria do magnetismo animal se assemelha ao que o psiquiatra e psicanalista austríaco Wilhelm Reich (o maior aluno de Sigmund Freud) denominou orgônio – que nada mais é do que os chineses há muito tempo já conhecem e chamam de chi (qi) e os indianos de prana – e o tratamento que utilizava se encontra em muitos pontos com a terapia bioenergética (de Alexander Lowen, aluno de Reich), ou seja, Franz Mesmer no século XVIII já falava de coisas que só foram aceitas pela ciência ocidental no século XX (em contrapartida, havia um simpatizante de sua teoria que era ninguém mais, ninguém menos que Allan Kardec, o fundador da religião espírita, século XIX).

Certo, nesse ponto você pode perguntar: porque falar tanto desse tal de Mesmer e magnetismo animal (que o leitor sugestivamente já está curioso e vai procurar no google pra saber a respeito), e de outras personalidades que ficaram para a história?

Então vamos lá. Onde quero chegar com isso?

Veja bem: Jesus Cristo foi crucificado, como dizemos, que é o mesmo que executado, que é o mesmo que assassinato formal institucionalizado. Não é preciso mais do que isso para ilustrar minha idéia. Isso sem contar que as palavras Dele são atemporais, tanto que dois mil anos depois de seu nascimento ainda fala-se dele e de seus ensinamentos, tamanha sua importância.

Retomemos então o início do artigo: “Existem no mundo algumas pessoas com pensamentos realmente ímpares. São visionários, pessoas com um propósito e ideal firme de vida e por vezes inovador, ou no mínimo com contribuições magníficas para a humanidade, seja nas atividades físicas, ciência, espiritualidade, arte, medicina, etc”. Estas pessoas extraordinárias muitas vezes são rejeitadas e duramente criticadas, ou até vítimas de violência e assassinato como já foi dito. E eu falei de exemplos famosos, mas existem pessoas aparentemente comuns e cabeças-duras que vivem na obscuridade. Acredito profundamente nisso. Estas pessoas são também visionárias, mas encontram resistência onde estão, digo, na sua cultura, círculo social, etc. Alguns deles acabam percebendo, ainda que inconscientemente ou muito subjetivamente, a loucura do mundo, do ser humano, do sistema capitalista, ou qualquer outro sistema econômico do mundo, pode ser também o feudalismo, o socialismo ou qualquer outro “ismo” que desejar, seja ele “bananismo” ou “abacaxismo”, mas nessa profunda e diferente visão de mundo ou no processo que a desencadeia, muitos acabam contraindo para si um grande sofrimento, seja este um sentimento de solidão, depressão, loucura, dentre outros. Pensando assim chego à conclusão de que a humanidade com certeza perdeu muitas pessoas brilhantes que terminaram em suicídio, ou foram mortas por outras ou, fatalmente eu diria, acabaram abandonando seus próprios pensamentos, sua visão única e inovadora, sua “gema preciosa”, seus “ovos de ouro”.

E por que? Porque tanta perda de pessoas ou de idéias que poderiam contribuir tanto com o nosso mundo? Muitas vezes essas pessoas são pela sociedade ou pelo seu círculo social consideradas como loucas, hereges, perturbadoras da ordem – se antes não fazia, espero que agora faça sentido os citados exemplos do dr. Mesmer e Jesus Cristo – e no pesado sofrimento que encontram por conta disso podem acabar em psicólogos, psiquiatras, ou mesmo entre amigos, etc., que incapazes de perceber a genialidade de tais indivíduos tão distintos, acabam forçando-os, ou ao menos tentando forçá-los a enquadrarem-se no pensamento comum dos verdadeiros loucos, loucos não no sentido pejorativo que eles mesmo atribuem aos visionários, mas aqueles que não conseguem sair do ciclo que mantêm suas vidas vazias, tornando-as apenas sobrevidas, onde mais sofrimento e ilusão são criados a cada dia. Ou seja: considerados como loucos pela maioria de consciência comum, que se auto proclama normal, tais indivíduos magníficos podem ser puxados de volta para a verdadeira loucura que é essa correria pelo sucesso, pelo dinheiro, pelo maior número de pessoas com quem se relaciona intimamente ou mesmo uma busca desenfreada por amor e carinho, pelos produtos da moda, pelos mesmos vícios, enfim, pelos objetivos vazios. O resultado disso depende do caso, depende da proposta do “louco” idealizador, mas pode ser um hospital psiquiátrico, assassinato ou suicídio. É claro que existem loucos nos manicômios, de forma alguma quero dizer que todo louco foi um dia um gênio não reconhecido, mas subestimar o pensamento e filosofia de uma pessoa só pelo fato de que ela é diferente da cultura comum não considero sensato. Exagero? Não! A história comprova: na Idade Média a “Santa” Inquisição proibiu Galileu Galilei de pregar o heliocentrismo, mas contra a insituição da igreja e aos seus seguidores ele era o único que estava certo (considerando ele como a única pessoa que assim pensava assumidamente, o que não deve corresponder à realidade, mas serve como exemplo), e graças à sua coragem de enfrentar o pensamento da maioria e da Igreja Católica (na época a “portadora da verdade”) felizmente hoje sabemos que sim, é a Terra que gira em torno do Sol, e não o inverso. É uma pena que a igreja católica só foi absolvê-lo muito tempo depois de ele ter desaparecido do solo terrestre, o que de nada adianta, já que hoje a igreja tem que admitir, queira ou não, que o Sol não gira em torno dos homens (haja egocentrismo! Ou antropocentrismo?...).

Certo, chega de nomes famosos. A essência da minha idéia é de que há uma resistência contra o novo, contra o desconhecido. Até agora falei principalmente de ciência, e ainda não falei muito sobre o que diz respeito à melhora do indivíduo como ser humano, à espiritualidade e ao comportamento, coisas inseparáveis, acredito. Todas as pessoas buscam pela felicidade e pela realização. Infelizmente, parte disso acontece às custas de um egoísmo que é refletido na sociedade, no modo de vida, na organização da sociedade, no sistema econômico, no comportamento, e a tal da felicidade, ilusória e impermanente, é conquistada às custas dos outros, trapaceando e usando e direcionando as pessoas para os seus objetivos. Mas existem os indivíduos singulares, que acabam procurando uma alternativa ao seu desenvolvimento e busca dessa felicidade, alternativa esta que visa não prejudicar nem a si mesmo e nem aos outros. Contudo, isso foge ao modo comum e de certa forma em alguns casos pode ser um martírio agir assim, pois isso acaba mexendo com o sentimento, pensamento e emoção de outras pessoas, que para respeitar tal diferença acabam precisando se esforçar um pouco, ou muito, para que isso ocorra, e talvez nem todos queiram realizar tal esforço. E é dessa forma que a atitude desses corajosos seres encontra resistência no meio em que vivem. Logo, o indivíduo diferente acaba precisando treinar mais a sua paciência e tolerância, mas felizmente, ele é quem ganha com isso, e quando ele ganha, todos os demais ganham, pois ele pode beneficiar aos outros com aquilo que conquistou.

O Homem Diferente

Exterminado o conhecimento, não haverá mais desgostos
Entre o sim e o não, que grande diferença existe?
Entre o bem e o mal, qual a distância?
O que todos os homens temem deve ser temido
mas que imensas e infindas são as discussões que se seguem! A multidão de homens parece satisfeita, está cheia de ardor, exaltada como num festim semelhante ao que fazem os que escalam as montanhas na primavera.
Somente eu estou calmo, tranquilo, meus desejos não deram qualquer indício da sua presença. Sou como um recém nascido que ainda não sorriu.
Pareço abandonado, errante, sem finalidade!
Os outros homens possuem o supérfluo, só eu sou por todos deserdado.
O homem da multidão julga-se iluminado, enquanto eu na penumbra estou
mergulhado.
O homem da multidão julga-se infalível, persipicaz, somente eu, dobrado
sobre mim mesmo, sou móvel como o oceano, sempre a flutuar, A multidão torna-se útil,
somente eu sou inapto, tal um
pária abandonado.
Eu, sozinho, sou diferente de todos os homens porque venero profundamente a mãe que todos alimenta (O Tao).

Lao Tsé, Tao Te Ching, poema 20 (editora pensamento)

FYM

                                                                                                          Jerônimo Martins Marana

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